O ano de 2022 começou com algumas baixas no mercado automotivo. Carros populares entre os compradores estão se despedindo, alguns sem deixar substitutos. Os motivos são variados e vão desde a queda na procura até a não adequação às regras de emissões de poluentes.
Esta última é a razão que mais fez vítimas. Desde o primeiro dia de 2022, está em vigor no Brasil a fase L7 do Proconve (Programa de Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores). A nova legislação tornou ainda menores os níveis de emissões de poluentes tolerados entre os veículos à venda no país. Os modelos fabricados neste ano e que não se encaixam nos novos padrões não podem mais ser vendidos.
Com isso, carros populares e modelos com muitos anos de mercado e que estavam defasados tecnologicamente e já não tinham muita procura acabaram deixando as linhas de produção. São os casos de antigos sucessos de vendas, que ao longo dos anos foram ganhando concorrentes mais modernos até mesmo dentro da própria marca. Confira alguns deles:
Lançado no Brasil em 1984, o Uno revolucionou o segmento dos carros populares com seu design moderno e amplo espaço interno. O projeto estava tão à frente do seu tempo que durou até 2013, quando o Mille Economy deixou o mercado por não atender à obrigatoriedade de airbags e freios ABS.
O antigo Uno, inclusive, conviveu com a segunda geração, lançada em 2010, mas que nunca alcançou o sucesso do primogênito. O novo Uno passou a sofrer ainda mais a partir de 2016, quando a Fiat lançou o Mobi, que nada mais é do que um Uno encurtado e com desenho mais moderno.
A pá de cal veio em 2022. Com as novas normas de emissões da fase L7 do Proconve e vendas baixíssimas, o Uno encerrou o seu ciclo no Brasil sem deixar substituto. Mas não sem “lacar”. A série especial de despedida, batizada Uno Ciao e limitada a 250 unidades, foi lançada em janeiro de 2022 por R$ 84 mil. Poucas semanas depois, já era vendida por R$ 110 mil, alta de cerca de 30%.
O furgão da Fiat era outro veterano que foi produzido por quase 20 anos com pouquíssimas mudanças. Com opção de carga ou passageiros, era versátil e podia levar até sete passageiros. Isso fazia dele um dos preferidos para frotas de empresas e locadoras de veículos.
Seu público fiel, contudo, não era suficiente para mantê-lo em linha com as mudanças (e custos) necessários para que atendesse às novas regras do Proconve. Assim, a Fiat optou por matá-lo também sem um substituto.
O Fit foi lançado no Brasil em 2003 pouco tempo após mercados desenvolvidos, como o Japão e Europa (lá ganhou o nome Jazz). Em pouco tempo, tornou-se o queridinho das pequenas famílias. Isso porque tinha como grandes virtudes o amplo espaço interno e o banco traseiro com diversas opções de rebatimento. Tudo isso combinado com o baixo consumo do motor 1.4 e a confiabilidade e ótimo pós-venda característicos da Honda.
O sucesso e as virtudes continuaram com a segunda e a terceira gerações, que trouxeram consigo uma grande fidelidade dos clientes. Não é difícil encontrar proprietários que já estão no seu terceiro, quarto e até quinto Fit seguido.
Mesmo com este carinho do mercado, o Fit deixou de ser produzido no fim de 2021. A razão, desta vez, não foi o Proconve. A quarta geração, lançada em 2020 no Japão, deu um grande salto de qualidade e equipamentos. Isso faria com que o seu preço no Brasil ficasse muito elevado e próximo de modelos de segmentos superiores.
A solução encontrada pela Honda foi lançar o City Hatchback, um projeto mais simples e voltado para países em desenvolvimento, como o Brasil. Apesar de manter os bancos traseiros configuráveis, não tem o mesmo carisma do Fit.
Além dos carros populares, vamos agora falar de um outro segmento. Como o Fit, o Honda Civic tem uma legião de fãs que apreciam seu desenho sempre elegante e a qualidade mecânica. Lançado no Brasil em 1992, o Civic ganhou nacionalidade brasileira cinco anos depois e teve cinco das onze gerações produzidas por aqui. Foi um grande concorrente de modelos como os Chevrolet Vectra e Cruze e o seu eterno rival, o Toyota Corolla.
Quis o destino que os SUVs se tornassem o sonho de consumo da classe média e não mais os sedãs médios. Com vendas reduzidas, a Honda optou por não investir na produção nacional da 11ª geração e vai começar a importá-la ainda em 2022. Com o real desvalorizado, acredita-se que seu preço ficará próximo dos R$ 200 mil, o que promete tornar o modelo um veículo de nicho.
Assim como o Gol falhou na missão de substituir o Fusca, o Fox não conseguiu aposentar o Gol e conviveu com ele por quase 20 anos. Lançado em 2003, o Fox usava a boa e moderna plataforma PQ24 do Polo. Com bom espaço interno e posição elevada de dirigir, conquistou um público diferente do que comprava o Gol e deu origem a uma família, composta pelo aventureiro CrossFox e pela perua SpaceFox.
Durante seu ciclo de vida, o Fox passou por duas reestilizações e teve até teto solar como opcional, algo bem raro no segmento dos compactos. Também teve motores 1.0 de três e quatro cilindros, além dos 1.6 com oito ou 16 válvulas. Foi um grande representante dos carros populares.
Em 2018, com o lançamento do novo Polo, o Fox foi reposicionado e passou a contar apenas com motor 1.6 nas versões Connect e XTreme, ambas bem equipadas e com ótima relação custo benefício. Este propulsor, contudo, precisaria passar por melhorias para atender à Fase 7 do Proconve e, como o Fox já era um veterano, a Volkswagen preferiu aposentá-lo. Junto com ele, também deixaram de ser produzidos Gol e Voyage 1.6.