Proibidos no Brasil desde 1976, os veículos de passeio com motor a diesel voltaram ao debate nos últimos meses. A razão é que o deputado federal Kim Kataguiri (DEM-SP) apresentou uma emenda parlamentar propondo a liberação da venda no país. A proposta foi incluída na medida provisória que libera a venda direta de etanol das usinas para os postos de combustíveis, porém ainda está em tramitação.
O parlamentar argumenta que a proibição “não mais se justifica” e que “diversos países usam o diesel para veículos de passeio, inclusive por conta de questões ambientais. Ademais, a autorização para o uso do diesel pode tornar o combustível mais barato, aliviando a presente crise inflacionária”.
Não é a primeira vez que o Legislativo tenta liberar a venda de carros co motor a diesel. Entre 2015 e 2018, dois outros projetos de lei tentaram derrubar a proibição, porém acabaram não aprovados. Atualmente, apenas veículos com tração 4×4 com reduzida ou primeira marcha encurtada, além de veículos com capacidade de carga superior a uma tonelada podem funcionar com um motor a diesel.
Quando a portaria MIC nº. 346, de 19 de novembro de 1976, foi publicada, o Brasil importava 78% do petróleo utilizado nas refinarias. Além disso, o mundo atravessava a famosa crise mundial do petróleo.
Com o preço do óleo bruto nas alturas, o gasto com a importação subiu de US$ 600 milhões, em 1973, para US$ 2,6 bilhões em 1974. Até chegar aos US$ 10,6 bilhões em 1981. A participação do petróleo nos pagamentos externos do Brasil saltou de 9,7% para 52,7% de 1973 a 1980. Também levou junto a dívida externa brasileira, que explodiu dos US$ 6 bilhões para US$ 54 bilhões.
Com a proibição, vieram junto subsídios governamentais para reduzir o preço do diesel. Para não impactar demasiadamente as contas públicas, criou-se uma reserva de mercado para que apenas os meios produtivos, como veículos de carga, máquinas agrícolas e geradores, utilizassem o combustível.
Os motores a diesel são bem diferentes dos movidos a gasolina, etanol ou GNV (Gás Natural Veicular). O diesel é injetado diretamente nos cilindros por meio de uma bomba e entra em combustão sozinho, sem a necessidade de uma faísca fornecida pela vela de ignição, como nos motores flex e a GNV.
A combustão espontânea do diesel é resultado da alta taxa de compressão do motor. Desta forma, acaba elevando bastante a temperatura do ar que é sugado para dentro dos cilindros.
Para suportar maiores cargas de pressão e temperatura, os componentes de um motor a diesel são mais resistentes e caros de se produzir. Por esta razão um SUV ou caminhonete a diesel é mais caro do que um similar movido a gasolina.
Entre as vantagens do motor a diesel estão:
Já os aspectos negativos são:
Se o Brasil tenta liberar o carro movido a diesel, nos países desenvolvidos acontece exatamente o contrário.
Na Europa, que em 2011 teve 60% das vendas de veículos representadas por modelos a movidos a diesel, os fabricantes estão investindo cada vez menos neste tipo de motor.
Estudo feito pelo banco suíço UBS revela que a fatia de carros a diesel no mercado europeu será de apenas 10% em 2025. Por lá, além de Estados Unidos e China, o investimento maciço é na eletrificação, com carros híbridos e 100% elétricos.
No Brasil, há o amplo uso do etanol. Ele é uma fonte de energia renovável que permite uma compensação do carbono emitido, já que a própria cana de açúcar transforma o dióxido de carbono em oxigênio através da fotossíntese. Especialistas acreditam que a liberação de carros de passeio a diesel no país seria um retrocesso e totalmente na contramão do resto do mundo.
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