Berço da Revolução Industrial, a cidade de Londres sempre sofreu com a poluição. Nas últimas décadas, contudo, as emissões lançadas pelos escapamentos atingiram níveis alarmantes e fizeram acender o sinal amarelo para as autoridades.
Como sempre vem a luz vermelha após a amarela, a capital inglesa criou uma série de medidas de mobilidade social para restringir a circulação de veículos movidos por combustíveis fósseis. Assim, pretendem reduzir as cerca de nove mil mortes por ano associadas à poluição.
O legal é que as mudanças impostas pela Prefeitura de Londres vão muito além da questão ambiental. Elas passam pela saúde pública e entram na área da justiça social. Isso porque as regiões mais pobres da cidade são as mais afetadas pelo problema da poluição.
Segundo a British Heart Foundation, entidade que trabalha na pesquisa de doenças cardiovasculares no Reino Unido, os habitantes de renda mais baixa em Londres são expostos a níveis de poluição equivalentes a fumar 150 cigarros por ano.
Entre os males causados pela poluição do ar estão os acidentes vasculares cerebrais (AVCs), cânceres de pulmão, doenças cardíacas e doenças respiratórias crônicas e agudas.
Hoje, não são mais as chaminés das indústrias as grandes vilãs da poluição do ar. A mobilidade social entrou na jogada. A maior parte das emissões vem dos carros, táxis, ônibus e caminhões. Uma das primeiras medidas, criada em 2003, foi o pedágio para circular na área central de Londres, que funcionava de segunda à sexta-feira, das 07:00 às 18:00 horas, a um custo de 8 libras, cerca de R$ 48.
Após quase duas décadas de sua implementação, o pedágio urbano já não mais surtia o efeito esperado. Isso motivou a criação da Zona de Ultrabaixa Emissão (ULEZ, na sigla em inglês) em 2019. Ainda mais restritiva – e focada na melhora da qualidade do ar e não somente na redução dos congestionamentos -, funciona 24 horas por dia, em todos os dias do ano, sem exceções.
As tarifas variam conforme o tamanho e o ano do veículo. Elas custam entre 12,50 e 100 libras, ou de R$ 75 a R$ 600, com monitoramento por câmeras de segurança espalhadas por todos os cantos e pesadas multas em caso de desobediência. Veículos com emissão zero estão livres da cobrança.
Em outubro de 2021, a área de cobrança foi ampliada dos 21 quilômetros quadrados da região central de Londres para as principais vias circulares da cidade. Assim, alcançou uma área de 360 quilômetros quadrados.
As políticas ambientais da ULEZ não estão só na cobrança de pedágio. Elas incluem medidas para:
Os resultados das ações de mobilidade social apareceram rápido. Um estudo realizado 10 meses após a introdução da ULEZ constatou que 49% menos veículos poluentes se dirigiam ao centro de Londres todos os dias – o equivalente a 44.100 veículos. Veja outros números interessantes:
Com a receita gerada pela ULEZ, US$ 105 milhões estão sendo usados para adaptar ou comprar novos ônibus públicos. Isso faz de Londres a cidade com a maior frota de ônibus elétricos da Europa. Além disso, há projetos conduzidos por bairros, incluindo ruas de baixa emissão e a ampliação de redes cicloviárias.
Diferentemente do primeiro pedágio de 2003, a ULEZ tem grande aceitação da opinião pública e dos cidadãos londrinos. A meta é que, até 2041, 80% de todas as viagens na cidade sejam feitas a pé, de bicicleta ou de transporte público. Exemplo para grandes metrópoles, Londres está se tornando um lugar mais limpo, saudável e justo para viver.